De acordo
com depoimentos de alunos, a entrada das drogas nas escolas é precedida pela
presença das mesmas em seus arredores – “fora rola”. Alguns ressaltam ainda que
o consumo, muitas vezes, ocorre próximo às escolas: “na esquina tem bastante.” Considerando
o universo amostrado de alunos, uma média de 33,5%, ou seja, um terço do total,
afirma ter presenciado o consumo de drogas perto do ambiente escolar, o que
corresponde a 1.551.609 estudantes, como pode ser visto na Tabela 1.
Tabela 1 – Alunos, membros do corpo técnico-pedagógico
dos ensinos fundamental (5ª a 8ª série) e médio e pais, por ter presenciado uso
de drogas perto da escola, segundo capitais das
unidades da Federação, 2000 (%) continua
De acordo com os estudos feitos pela Unesco no ano de 2001 e apresentados
neste capítulo, observa-se a porcentagem de indivíduos que presenciaram alguma
vez o consumo de drogas nas instituições de ensino, tanto alunos, professores
quanto pais, em média 30% observaram este tipo de comportamento.
Outra realidade vivenciada nas instituições de ensino está relacionada
aos jovens que ao ingressar na escola já são usuários de drogas e continuam
sendo, e outros ingressam na escola e iniciam o consumo depois. Levando estes
dados em consideração observa-se que o direcionamento do combate ao uso de
drogas, com indivíduos que já são usuários e outros que iniciam o consumo pela
influência dos outros.
Fonte: UNESCO, Pesquisa
Nacional Violência, Aids e Drogas nas Escolas, 2001.
Foi perguntado aos alunos:
“Você já viu alguém usando drogas: dentro da escola; em festas, boates; perto
da escola; em shows; perto de sua casa; em outro lugar?” (marque todas que
forem verdadeiras).
Foi perguntado aos membros
do corpo técnico-pedagógico: “Em que lugares você já viu alguém usando drogas:
dentro da escola; em festas, boates; perto da escola; em shows; perto de sua
casa; em outro lugar?”
(marque todas que forem
verdadeiras).
Foi perguntado aos pais:
“Você já viu alguém usando drogas dentro da escola do seu filho, ou nas
proximidades? Sim, dentro da escola; sim, perto da escola; não, nunca vi.”
O tráfico em torno da escola
Quadro 1 – Pessoas que se infiltram na escola
Entrevista com segurança, escola pública, Distrito Federal; entrevista com inspetor, escola pública, Salvador
Praticamente 85% das escolas têm o tráfico de drogas. Não assim que seja visto. Porque é muito difícil você ver. Tem caso de escola que o aluno prefere reprovar para continuar o tráfico naquela escola. Ele é usado pelo traficante para fazer o tráfico dentro da escola.
Através dos traficantes. De tantos lugares que surgem esses traficantes. A gente sabe que existem pessoas infiltradas em todos os lugares só pra isso. A gente sabe que aqui na escola existem pessoas que se infiltram só pra isso, no intuito de passar. De vez em quando, a gente descobre que tem um que está aqui dentro. Mas que o intuito dele não é de estudar, mas de passar droga.
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Considerando
as interferências do meio social do qual faz parte, a escola aparece como um
alvo potencial das ações dos traficantes, que podem ultrapassar os limites do
muro escolar, tornando-as, segundo a expressão de Guimarães (1998), escolas
sitiadas. O tráfico tem, muitas vezes, influência no cotidiano escolar, não
somente rondando a escola, como afirma um segurança: Existem
traficantes rondando a escola sim, mas também chegando a seu espaço
interior.
Tabela 2 – Alunos,
membros do corpo técnico-pedagógico dos ensinos fundamental (5ª a 8ª série) e
médio e pais, por observação de uso de drogas dentro da escola, segundo
capitais das unidades da Federação, 2000 (%)
Fonte: UNESCO, Pesquisa Nacional Violência, Aids
e Drogas nas Escolas, 2001.
Foi perguntado aos alunos:
“Você já viu alguém usando drogas: dentro da escola; em festas, boates; perto
da escola; em shows; perto de sua casa; em outro lugar?” (marque todas
que forem verdadeiras).
Foi perguntado aos membros
do corpo técnico-pedagógico: “Em que lugares você já viu alguém usando drogas: dentro
da escola; em festas, boates; perto da escola; em shows; perto de sua
casa; em outro lugar?” (marque todas que forem verdadeiras).
Foi perguntado aos pais:
“Você já viu alguém usando drogas dentro da escola do seu filho, ou nas
proximidades? Sim, dentro da escola; sim, perto da escola; não, nunca vi.”
Observam-se
nos dados acima apresentados, que o tráfico é considerado como certo dentro das
instituições de ensino, e que as séries iniciais já foram atingidas, e que
fazem parte da linha do tráfico, e que deve existir uma preocupação com modelos
de ações para minimizar estes casos.
A
complexidade que envolve a presença de drogas (de alguma forma) é maior do que
a mera constatação de que um ato ilícito ocorre dentro das escolas, ferindo os
princípios da educação e da escola como local seguro e de formação para a
cidadania. Como a escola é um lugar de sociabilidade, destaca-se o risco de
difusão e propagação do uso de drogas entre os estudantes, já que os que são consumidores podem vir a
influenciar aqueles que não o são: “Tem as pessoas que passam a ser
consumidoras e tem aquelas que já entram na escola que já são consumidores.”
A
cultura do medo alimenta-se de estratégias que dificultam a denúncia e,
conseqüentemente, o enquadramento legal do tráfico de drogas. Por exemplo, um
diretor entrevistado, embora admita a possibilidade da presença de traficantes
nas imediações de sua escola, baseando-se em algumas evidências, declara que
uma intervenção na economia do tráfico e uma ação de combate só podem ser
acionadas mediante provas de que este tipo de atividade ocorre no entorno
escolar. Diante do exposto, fica clara a vulnerabilidade das escolas frente ao tráfico
e à violência, expressa, sobretudo pela ação de grupos organizados, marcados
por condutas delinqüentes, cujas ações, muitas vezes, acabam por se concretizar
em atos violentos, protagonizados por “jovens sob uma dupla representação:
vítimas e partícipes da violência” (DEBARBIEUX, 1998, p. 39).
Esta
situação agrava-se quando as escolas e seus membros sentem-se impotentes,
principalmente por não terem o respaldo das autoridades para o enfrentamento
dos problemas de segurança experimentados no ambiente escolar. Estas
considerações são importantes com relação as políticas sociais para minimização
do consumo de drogas nas escolas. Mas a grande dificuldade está relacionada a
forma de tratar o assunto, a receio vivenciado pelos profissionais pedagógicos
e pelas famílias. O tráfico sempre envolve violência, o que se torna uma
barreira entre os jovens e as ações sociais de combate ao uso de drogas, este
ainda é um problema a ser estudado, há um conflito de interesses entre as
escolas (professores e pais) e o tráfico, trazendo dificuldades as ações. “Constataram a existência de uma
correlação inversa entre desempenho escolar e uso de drogas. Uma das conclusões
é a de que, quanto mais altas as notas do aluno, menor é o risco de
experimentar e usar drogas”. (BEARMAN, 2001)
O contexto relacionado a sociedade, o uso de
drogas atinge patamares em maior escala do que os observados nas pesquisas
apresentadas neste trabalho, a sociedade está envolvida e influencia através da
negação, do preconceito e da rejeição a determinados grupos ou indivíduos,
causando mal estar, e proporcionando a escolha do caminho das drogas, como
refúgio, como alicerce, como alternativa, e também como forma de aceitação.
Segundo Santos, 1997, p. 50, “o uso de drogas
está presente em todos os povos desde a Antiguidade. Entretanto sua expansão se
deu a partir do século XX. Segundo a OMS, um em cada quatro habitantes faz uso
de drogas. São os medicamentos, o álcool e o fumo os mais consumidos pelos
adultos (...)” O autor relata ainda uma pesquisa realizada em 1986 por Carlini,
“com alunos de escolas de bairro de baixa renda, revela que 7% dos alunos do
sexo masculino e 2,8% do sexo feminino consomem álcool excessivamente. Taxa
alarmante, considerando-se que a faixa etária variava de 9 a 18 anos.”
Por outro lado a aceitação de drogas lícitas
como cigarros e bebidas alcoólicas também pode influenciar no comportamento dos
jovens, pois na infância presenciam o consumo de drogas lícitas como normais,
em qualquer lugar por pessoas de todas as idades. O que pode levar ao indivíduo
na infância acreditar em benefícios ao consumir este tipo de produto. E ao
chegar a adolescência começam a desenvolver a vontade de fazer parte destes
grupos, para se sentirem iguais, aceitos, para não serem diferenciados. “Essa irracionalidade é
típica do pantanoso território que é o problema das drogas. Sobre esse assunto
tão controvertido, ninguém é neutro, ninguém é inteiramente lógico. Porque ele
nos remete para o fundo de nós mesmos. Para tudo aquilo que, ao mesmo tempo,
assusta e atrai”. (ARANTANGY apud SANTOS, 1997, p. 49)
Os adultos tomam tranqüilizantes para
suportar sua inserção social. Os adolescentes tomam alucinógenos para recusar
passivamente essa mesma inserção. (OLIEVENSTEIN apud SANTOS, 1997, p. 55) Esta
pode ser outra forma que os indivíduos (crianças e adolescentes) podem visualizado
o consumo de drogas. Muitas vezes a sociedade não dá importância a estes
contextos, campanhas de conscientização relacionadas a este tipo de situação
poderiam ajudar a minimizar este tipo de comportamento, vivenciado na
sociedade.
De acordo com o observado neste capítulo, a
influencia nas séries iniciais pode ser por meio da família, das escolas e da
sociedade. Sejam drogas lícitas ou ilícitas, por fatores econômicos, de
convivência e simplesmente por influência do tráfico já existente no meio.
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