Para discussão deste tema destacam-se os estudos feitos em regiões diversas do Brasil, apresentando realidades regionais, neste contexto verifica-se que as causas para a iniciação ao consumo de drogas na infância são por diversos motivos, que são comuns a todo país. Apresenta-se neste capítulo as diversas pesquisas sobre o estudo e algumas conclusões relevantes ao estudo aqui apresentado, estes resultados poderão ser utilizados como forma de conhecimento e aprendizado assim como forma de combate as principais causas de disseminação do consumo de drogas na infância e adolescência.

4.1 Família

No Brasil, estudos revelam a existência de risco para uso de drogas, tanto para os jovens oriundos de famílias divorciadas quanto daquelas cujos pais não são separados, desconstruindo, assim, um imaginário de que o tipo de família, como a de pais separados, é mais propícia na indução dos filhos para as drogas. Mas não há consenso sobre o lugar da família na trajetória de jovens quanto às drogas.
O seguinte depoimento de um aluno, colhido para esta pesquisa, ilustra o mesmo que a literatura menciona, ou seja, a relação entre violência familiar e uso de drogas pelos jovens, e, principalmente, a falta de diálogo no âmbito familiar:
Bom, eu acho que quem usa drogas (...) na maioria das vezes é pra fugir dos problemas familiares porque eu tenho um parente que usa, desde pequeno, a gente conversando com ele pergunta por que você começou a usar drogas. Ele fala, eu comecei a fumar, mais por causa do meu pai que era muito rígido, me batia muito, aí eu corria pra rua. Aí vivia mais com os amigos do que com a família. Em casa ele não tinha aquela liberdade de chegar e falar “Pai, fumar isso e isso é errado? Fazer tal tipo de coisa é errado?” Ele não teve isso, não teve essa liberdade devido o pai trabalhar muito, a mãe é uma pessoa muito retraída, não dá liberdade para ninguém, não conversa sobre certos tipos de assuntos com os filhos. Aí devido à influência de amigos começou. Hoje é viciado e dá o maior problema para a família. Não só pra família, mas (risos) pra sociedade toda. Pra família em geral (Grupo focal com alunos, escola pública, Cuiabá).
Como o uso de drogas freqüentemente tem seu uso iniciado na adolescência, torna-se importante conhecer a população exposta ao risco do abuso de drogas e agir de forma eficiente. De qualquer forma, a realização de programas para a prevenção do uso de drogas e o tratamento dos usuários deve valorizar os aspectos biopsicossociais do ser humano, geralmente semelhantes em ambientes diversos. Além disso, para o êxito de tais iniciativas é primordial refletir sobre fatores que podem ser protetores para o uso de drogas, tais como bom relacionamento familiar, religiosidade e disponibilidade de informações acerca da dependência e suas conseqüências e perspectivas do futuro. (Silva, 2006)
De acordo com Santos, 1997, p. 49:


Estudiosos do assunto discutem e questionam sobre a possibilidade de existir no ser humano uma predisposição para se tornar toxicômano. Procuram analisar as razões que levam alguns jovens a usar droga e outros a não sentir esta mesma atração. Investigam também a estrutura familiar, tentando descobrir se as famílias constituem um fator de risco.

Neste aspecto observa-se que a família também pode ser incluída como fator de risco  para os jovens, pois interferem na sua infância, e as conseqüências podem ocorrer no futuro, em alguns casos observa-se que na própria infância a influencia já reflete na vida do indivíduo.


As drogas não desempenham mais papéis integradores, respondendo agora a uma intensa crise social/econômica, de uma sociedade pragmática, competitiva, consumista e individualista. Existe uma perda de confiança nas instituições família e escola, gerada por escassez de modelos de identificação, sentimento de carência, angustia e insegurança. Desta forma, a droga apresenta-se como um caminho atraente. (SANTOS, 1997, p.53)


Os pesquisadores do assunto observaram a grande dificuldade de aceitação de diferenças sociais, a falta de credibilidade da família, da sociedade, a não aceitação na sociedade. Para ultrapassar ou suportar estes obstáculos a droga torna-se o caminho mais fácil, para criar coragem para enfrentas os problemas, e é onde o indivíduo se perde em um caminho ilusório de facilidades que não existem e seu convívio familiar e social fica cada vez mais difícil.


O importante na tarefa de administrar o relacionamento pais/filhos está na nítida convicção da realidade espiritual. Ou seja, a de que trazemos em nós mesmo um vasto e pouco explorado universo inespacial extremamente rico em potencialidades, cujo conhecimento muito poderá ajudar-nos a entender melhor aquilo a que costumo chamar de o oficio de viver. (MIRANDA apud SANTOS, 1997, p. 59)


A falta de apoio, de diálogo, de convívio familiar, são os primeiros pontos a levarem o a criança para uma realidade não muito fácil. A realidade de que a família não tem um bom convívio, da indiferença, a descrença e falta de confiança na instituição familiar, que depois é repassada as instituições de ensino e por fim para a instituição da sociedade. “Quando constata a dependência do filho às drogas, ocorrem intensos conflitos porque, ao mesmo tempo em que esse filho rejeita o sistema de valores dos pais, permanece em uma situação de dependência infantil, revelando falhas na capacidade de reconhecer-se como indivíduo adulto e capaz.” (SANTOS, 1997, p. 60)
Quando se fala em uso de drogas, as pessoas demonstram medo e preconceito... Drogas... algo de que se deseja distância, pois culpa, angústia e desespero são sentimentos de muitas famílias que convivem com usuários de drogas. Muitos pais protegem os filhos para que não entrem em contato com tais substâncias, porém se esquecem que na maioria das vezes é na própria família que as crianças efetuam seu primeiro contato com elas.
Geralmente os jovens iniciam suas experiências com as drogas consideradas lícitas, como o álcool e o tabaco em seus ambientes familiares. Após, podem recorrer às ilícitas para aumentar o seu prazer, procurar outras emoções ou fugir de seus problemas, sendo os inalantes e a maconha as drogas mais consumidas nesta fase (BUCHER, 1992, p. )
Esta pode ser considerada a maior influência familiar para os indivíduos mais jovens, o convívio com as drogas lícitas, que acarretarão possivelmente a aproximação ou convívio em sociedade com as drogas ilícitas. Além dos problemas psicológicos e sociais observados no convívio familiar, também existe o fato do convívio com a droga dentro de casa, dentro da família, o que pode incentivar os mais jovens a seguir o mesmo caminho.


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