Muitos são os estudos relacionados à Educação, violência, uso de drogas,
a integração dos mesmos e as maneiras de minimizar suas conseqüências. Neste
capítulo são apresentados trechos de alguns estudos, mostrando fatores
relacionados à integração ocorrida entre jovens e drogas em idade escolar, no
intuito de utilizar este conhecimento na formulação de novas idéias para o
combate as drogas e a valorização da educação. Mostrando a participação de
todos os seus agentes como fundamentais, sendo estes alunos, equipe pedagógica
e pais.
Para iniciar a contextualização desta integração, primeiramente
verificamos a relação entre a educação e sociedade por ABRAMOVAY, 2002, p. 38,
“Por
se tratar de um componente chave para a qualidade de vida da população juvenil,
uma primeira dimensão a ser analisada de modo a compreender a situação da
juventude latino-americana é a educação. Ela é considerada o principal
instrumento para a elevação dos níveis de capital humano e para promover o
bem-estar de jovens e adolescentes. Além disso, a interação que surge nas
escolas também acumula capital social, já que ali se constroem relações
sociais, redes de amigos e contatos. Neste sentido, a educação em conjunto com
a família constitui um dos espaços tradicionais de socialização entre os
jovens.”
A autora considera a educação como elemento fundamental de
desenvolvimento humano e através deste desenvolvimento gera-se o bem-estar
social dos jovens, sendo influenciado pela escola e família como primeiros
incentivos a socialização juvenil.
Verificamos também a importância do professor e o seu papel
dentro da escola como fornecedor de valores primordiais para formação
educacional e social dos jovens.
O professor na sala de aula bem como a escola no seu todo, naquilo que
explicita e não explicita, no que diz permitir e no que proíbe, no que
incentiva e no que faz por desconhecer, ensinam aquilo que valorizam, o que
acham, justo e não justo, em suma, ensinam valores. O ensino dos valores não se
pode evitar. (VALENTE, 2005)
Além da preocupação com os
valores a serem apresentados pelos professores, outra questão a ser verificada
como influencia na educação está relacionada as escolas, através do
fortalecimento institucional e físico das escolas públicas que são as mais
utilizadas pelos estratos sociais médios e baixos da sociedade, o não
favorecimento da melhoria estrutural das escolas públicas pode influencias no
desenvolvimento humano, prejudicando o desenvolvimento dos jovens menos
favorecidos socialmente.
Segundo Pizarro (2001, p.14)
apud Abramovay, 2002, ao final dos anos 90 na América Latina somente a educação
tradicional não mais assegurava o fortalecimento do capital humano e por
conseqüência novas oportunidades. Segundo o autor, novas instituições e
políticas típicas do padrão de desenvolvimento vigente na região favoreceram a
ampliação da educação privada e, por outro lado, deterioraram a educação
pública provocando um aumento da vulnerabilidade dos estudantes de estratos médios
e baixos da sociedade -mais usuais nesta rede de ensino.
A educação secundária e superior deixaram de ser – no transcurso de
poucas décadas – instâncias elitistas de formação e socialização juvenil e se
transformaram em espaços abertos a contingentes muito mais amplos e
heterogêneos de jovens que apostavam melhorar substancialmente seus níveis de
bem-estar e status socioeconômico. (CEPAL, 2000b, p. 129).
A preocupação com o nível
estrutural das escolas públicas de ensino fundamental e médio é plausível, se
levarmos em consideração o fato da juventude ter maior interesse e
principalmente necessidade em adentrar no estudo secundário e superior. Existe
uma facilidade maior da juventude em ingressar em faculdades, devido a
necessidade de profissionalização para os mesmos obterem o status
socioeconômico melhor, diferente de seus pais, por este motivo a preocupação e
fornecer um ensino fundamental mais adequado a formação e continuação da
educação dos jovens, a formação fundamental deve ser estruturada de qualidade,
de forma a desenvolver os estudantes, desenvolver seus valores, seu senso
crítico e seu interesse na continuidade de seu desenvolvimento educacional.
Vejamos texto abaixo relacionando as escolas como instituições socializadoras
no dever de desenvolver os jovens e afastá-los dos perigos apresentados como
alternativas para seus problemas sociais:
Em relação mais direta com a crise das instituições socializadoras e de
orientação normativa, a violência tem-se prestado como um eficiente mecanismo
de resolução de conflitos e obtenção de recursos. A experiência de processos de
exclusão e desigualdades sociais, além de gerar privações materiais, fomenta
entre os indivíduos sentimentos de desencanto e frustração, concorrendo para a
erosão dos laços de solidariedade. Nesse contexto, as frágeis redes de coesão
social colaboram para uma assimilação perversa a espaços restritos de
pertencimento tais como quadrilhas de tráfico de drogas e de armas, gangues
etc. (ABRAMOVAY, 2002, p. 57)
Ainda neste contexto
social, apresentamos o estudo feito por Abramovay e Castro, 2005, p. 75, onde
são apresentados dados relacionados a programas sociais lançados pelo governo
federal e as conseqüentes modificações verificadas na educação:
O programa Bolsa Escola foi
iniciado em 1997 pelo governo do distrito federal (Brasil). Seu objetivo era o
de vincular uma renda mínima ao rendimento escolar dos jovens de famílias com baixa
renda. O impacto imediato do programa foi apresentado pela UNESCO num trabalho
de avaliação (Waiselfisz, 1998c): tornara-se factível tirar os jovens da rua e
vincula-los permanentemente ao sistema educativo, contribuindo para quebrar o
ciclo de repetência e abandono escolar que caracterizava o perfil educacional local.
Três anos mais tarde o programa foi nacionalizado, atendendo a todo o país. O
detalhe essencial da versão federal do Bolsa
Escola é que a liberação das parcelas mensais é realizada por um cartão
de crédito entregue ao responsável pelo jovem. A incorporação desse elemento na
vida das famílias tem gerado um sentimento de autonomia e confiança antes
inexistente, além de desafogar o serviço público da tarefa burocrática de
liberar pagamentos a milhares de famílias a cada mês. Em outras palavras, o fortalecimento
do capital social serve como instrumento de combate à pobreza e à exclusão de
jovens em idade escolar.
Estes programas sociais
mencionados no texto acima como capital social tem a capacidade de modificar a
vida social das famílias, de forma a incentivar, estimular a educação, uma
forma de manter os jovens nas escolas através do auxilio às famílias, conforme
demonstrado no estudo o reflexo é positivo, através da autonomia gerada aos
jovens para continuar seu desenvolvimento educacional formando uma sociedade
mais desenvolvida.
Através do desenvolvimento
de estratégias para manter os jovens nas escolas, percebe-se a existência de
uma forma para que os jovens não se envolvam com o mundo das drogas, da
criminalidade, de certa maneira constitui-se uma prevenção. Conforme citado
anteriormente, a escola tem a capacidade de apresentar valores aos jovens,
valores morais, desenvolvimento e socialização dos jovens, através da
valorização do desenvolvimento humano.
Nesse sentido, concorda-se
aqui com os autores que defendem que os programas de prevenção deveriam seguir
princípios de valorização da vida, muito mais do que exercitar olhares
moralistas e repressivos (Bucher, 1992; Brasil, 1994), fortalecendo, com isso,
os indivíduos e grupos sociais para compreender a teia causal do consumo de
drogas (Soares, 1997), que compõem uma parcela da vertente crítica à política
da guerra ou combate às drogas, que reúne especialistas de diversas áreas em
torno da tendência à adoção de estratégias de redução de riscos/danos (Bastos,
1996).
Esta valorização da vida e
do desenvolvimento humano deve estar presente dentro das escolas, as equipes
pedagógicas podem desenvolver papel fundamental de prevenção as drogas dentro
das escolas, através do desenvolvimento do conhecimento, da evolução do senso
crítico, moral dos jovens, apresentando as desvantagens e conseqüências que se
enfrenta ao ingressar pelo caminho obscuro do mundo das drogas, e que ao tomar
este caminho o jovem estará se excluindo de uma vida diferente, mais justa, de
convívio social harmonioso para exclusão social total.
Toma-se também como referência teórica neste trabalho uma abordagem
educacional emancipatória, considerada potente para formar sujeitos com
capacidade crítica, habilitados para propor mudanças, capazes de refletir sobre
suas escolhas e não resignados a aceitar, como único caminho, aquele do
prejuízo relacionado ao consumo de drogas (SOARES, 1997)
Muitos foram os estudos e
os modelos de prevenção apresentados, os pioneiros fora do Brasil, como é o
caso dos Estados unidos:
A literatura mostra, no entanto, que historicamente o modelo de prevenção
hegemônico tem sido o do combate ou guerra às drogas, modelo que teve sua maior
expressão por volta de 1989, nos Estados Unidos, sob o governo de George Bush
que afirmava que a prioridade dos programas de prevenção era reduzir
nacionalmente o consumo global do uso de drogas – o primeiro uso, o uso
ocasional, o uso regular e os quadros de dependência. Segundo documento
divulgado em 1989, os usuários ocasionais de drogas são considerados
contaminantes dos não usuários, e por isso um perigo nacional (CARLINI-COTRIM,
1992)
Com relação a importância da educação na prevenção do uso de drogas na
escola, Santos em seus muitos artigos relata: ‘Nossa experiência comprova que a prevenção à droga segue a trilogia:
amor, bom senso e informação.’ (1997, p. 79) Voltamos aqui a refletir sobre
a informação e o bom senso, que podem ser introduzidos na vida dos jovens
através das escolas, do incentivo ao estudo, do debate sobre valores da
sociedade que são relevantes a todos que dentro dela convivem.
A prevenção está ligada ao modelo de
homem e de sociedade onde se insere, podendo seguir uma linha repressiva e de
cunho alarmista, nos moldes da “pedagogia do terror”, ou então seguir uma linha
mais compreensiva, de valorização do indivíduo, situando sua inserção no
contexto social num quadro mais amplo e educação para a saúde. Estamos mais de
acordo como segundo modelo. Trabalhamos com o “modelo de educação efetiva”, o
“modelo de estilo de vida saudável” e o “modelo de oferecimento de alternativas”.
(SANTOS, 1997, p. 80)
Os modelos apresentados por Santos são de suma importância para a
reflexão sobre as formas de ação com os jovens, oferecendo a educação como
alternativa a uma vida social mais justa e mais saudável, bem diferenciada do
caminho das drogas. A concepção educativa de prevenção está centralizada nos
seguintes aspectos: formação do ser humano; valores; motivações; estilo de vida
isento de drogas (ou, pelo menos, de acordo com a idade, um uso “responsável”
do álcool – droga social); alternativas no campo do lazer esporte e artes
(desenvolvimento do potencial criativo).
Segundo SANTOS, 1997, p. 82,
A filosofia de um programa de prevenção precisa ter em
mente que:
- A prevenção deve limitar os estragos tanto das
drogas legais, quanto ilegais;
- A prevenção tem de levar em conta a questão do
prazer;
- A dependência está associada não só a
periculosidade do produto, mas à fragilidade da pessoa e à dificuldade do
seu contexto sociocultural.
De acordo com a proposta para prevenção de drogas, vemos três pilares, um
relacionado ao conhecimento de causas e conseqüências do consumo, um
relacionado ao psicológico, e o terceiro relacionado a dependência devido a
dificuldades socioculturais. Se observarmos todos os trabalhos e estudos feitos
sobre as drogas, esses três pilares sempre estarão presentes no que diz
respeito a identificação dos fatores presentes na vida do usuário, e para este
modelo não diferente, desta forma fica muito nítido os pontos a serem
trabalhados.
Se as causas não são exclusivamente relacionadas a escolas, mas a outros
problemas vivenciados pelo jovem, é dentro da escola que estes pontos podem ser
trabalhados, de forma a discutir esses problemas dentro da escola, apresentando
alternativas e formas do jovem conviver
com seus problemas, pois de certa forma todos temos problemas, não há ser
humano com vida perfeita, desde que o mundo é mundo, as dificuldades existem e
fazem parte da sociedade e contribuem para o desenvolvimento do homem, assim o
jovem deve aprender e compreender a vida como uma constante superação. Santos
em seu estudo apresenta estas idéias como alternativas em lidar com o problema
das drogas nas escolas, que deve ser encarado de frente, assim como a vida deve
ser para os jovens estudantes.
Seria ideal que a escola complementasse
essa filosofia de vida familiar e acrescentasse em seu currículo programas que
também preparassem seus alunos para enfrentar não só a droga, mas a vida como
um todo. No entanto, muitos professores nem conhecem a realidade científica e psicológica
das drogas, seus efeitos e suas conseqüências. É freqüente não saberem nem
identificar um usuário de drogas e, se identificam, não sabem o que fazer com
tal descoberta. Por isso, as diretorias das escolas preferem negar as drogas em
seus estabelecimentos. Mas já não é possível “tapar o sol com a peneira”. As
drogas existem, e imaginar que apenas os “outros” a usa só facilita sua
propagação. (TIBA, 1994 apud SANTOS, 1997, p. 86)
Com relação a escola atuando diretamente na formação dos jovens, ensinando
valores da vida, da sociedade, alternativas para enfrentar as dificuldades da
vida, há a necessidade de dispor profissionais qualificados e preparados para
estas situações, já que as vozes das escolas são as equipes pedagógicas, como
professores, diretores, são agentes diretos e devem se preparar para a educação
de prevenção ao uso de drogas, devem reconhecer este problema e lutar contra o
problema e a favor dos jovens. Conforme apontado por Souza, 1997:
O grande dilema da escola está na sua
forma de atuar. Nossa experiência prática tem constatado que, em geral, o
profissional se vê despreparado para atuar na prevenção. Às vezes, participa de
cursos, mas não viabiliza sua prática e se sente impotente para se adaptar à
sua realidade. Muitas vezes, está solitário dentro da escola: sua preocupação
não atinge a direção nem a equipe escolar. Outras vezes sente-se aterrorizado,
recusando-se a pensar no tema, por sentir dificuldade pessoal em lidar com o
assunto. Ou ainda, usa recreativamente a droga e teme se comprometer. Com estas
e tantas outras dificuldades, a escola se omite, adiando sua atuação.
E assim como a preocupação interna das escolas, com relação a estrutura
física, preparação dos profissionais, as formas de manter os jovens presentes
nas escolas e acabar com a evasão, apresentado pelos estudos de SANTOS, existe
também a preocupação com o externo as escolas, conforme estudos apresentados
por Abramovay, 2002, p. 118:
Paralelamente à crise
interna, a escola reflete a sociedade, os fenômenos exteriores a ela, mas que
interferem diretamente em seu cotidiano, tais como a exclusão social, o
desemprego, a violência, entre outros. Assim, a escola torna-se objeto de
críticas e acusações, passando a ser percebida como causa, conseqüência e
espelho de problemas aos quais, muitas vezes, não consegue responder e nem está
ao seu alcance solucionar. Portanto, é perceptível a complexidade do lugar da
escola na sociedade atual e há que cuidar sobre como enfocar a questão das
drogas nesta ambiência.
Este problema com o externo as escola será melhor discutido no capítulo
IV. Relatamos apenas a importância existente no ambiente externo nas escolas,
onde estão situados os principais focos de manipulação e desvio de valores são
oferecidos aos jovens a caminho da escola, são mal vistos pela sociedade, s
jovens são discriminados e não ajudados, é com isto que a sociedade deve se
preocupar, com a prevenção e auxílio aos jovens não apenas a discriminação.
A escola pode acionar a auto-estima e o comprometimento social e incentivar
formas de sociabilidade pautadas no respeito e na solidariedade. Em muitos
casos, predomina no imaginário social, como vontade, uma valoração positiva da
escola. Ainda que esta seja criticada, insiste-se, a escola goza de
legitimidade na comunidade de relações sociais primárias na família, e, em
particular, entre os jovens. A escola é um lugar onde os jovens socializam-se,
fazem amizades e onde podem ter uma interação com adultos significativos (como
os professores). É também um lugar que possui como massa/objeto, conhecimentos,
valores e afetos. Vários vetores sociais contam a favor da escola como um lugar
privilegiado para acionarem-se programas preventivos e de atenção. No caso dos
consumidores, faz-se necessário o apoio de serviços e profissionais especializados.
(ABRAMOVAY, 2002, p. 118)
Para Abramovay a escola é
o primeiro contato para uma socialização efetiva, de forma as pessoas
conviverem com pessoas diferentes, sem grau de parentesco, com idéias
diferentes, existe a socialização com adultos, novas amizades, o contato com o
aprendizado, a geração de conhecimento, senso crítico, pensamentos próprios.
Por estes motivos a importância da escola na vida das pessoas, para a formação
de cidadãos, de profissionais, de valores da vida, da sociedade, do convívio
social, do convívio com as diferenças, da aceitação das diferenças, do
desenvolvimento contínuo.
Enfim, a escola é o local
propício para ajudar na prevenção das drogas, no sentido de que reúne várias
qualificações que colaboram para a difusão de tal perspectiva na comunidade e
na sociedade. Como bem mostram as características que a escola abrange, citadas
em Violências nas escolas (Abramovay e Rua, 2002, p. 325):
• por ser um lugar de
encontro da diversidade cultural, o que aumenta sua capacidade de amalgamar
conflitos que vêm de fora e, também, a habilidade para formas criativas de
solidariedade;
• por seu potencial
estratégico para tecer relações com a comunidade e, especialmente, com a
família, já que diversas avaliações de programas de prevenção nas escolas vêem
os pais como importantes parceiros para tal fim;
• pela possibilidade de
experimentar medidas de prevenção e acompanhar tanto a população-alvo como as
experiências implantadas de políticas públicas;
• pela sua importância
junto aos alunos quanto à formação de valores e transmissão de conhecimento, o
que tem prosseguimento nos processos de interação não somente entre professores
e alunos, mas entre os próprios estudantes.
Por estas características
apresentadas pela autora Mirian Abramovay, enceramos este capítulo com a
certeza que a importância da educação na vida das pessoas, como forma de
desenvolvimento humano, socioeconômico, entre outros fatores já discutidos,
observamos também a solidariedade como fator fundamental a prevenção de drogas
nas escolas, todos os agentes participantes da sociedade podem e devem combater
o uso das drogas, não através da discriminação, mas pela solidariedade em atuar
ativamente na melhoria das condições sociais das escolas, cobrando resultados
de governantes e o empenho de todos como obrigatório e solidário para promover
maior desenvolvimento humano e local melhorando também as condições de vida na
sociedade, diminuindo a violência e exclusão social e discriminatória.
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